Ações do MovEndo buscam conscientizar a população sobre a endometriose
Mutirão de consultas e exames na sede da Associação Bahiana de Medicina (ABM), caminhada e corrida na orla do Jardim de Alah, lives temáticas e uma sessão especial no Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA) estão entre as ações do Movimento Brasileiro de Conscientização da Endometriose (MovEndo) em Salvador ao longo do Março Amarelo. O objetivo maior é propagar a conscientização sobre a endometriose, seus sintomas e tratamentos. A doença, que afeta cerca de 8 milhões de mulheres no Brasil, pode causar dor intensa durante o ciclo menstrual, dor pélvica crônica e dificuldade para engravidar. Antecipar o diagnóstico e o início do tratamento é de fundamental importância para as pacientes.
Por isso, a ação na sede da ABM (Rua Baependi, 162, Ondina) confirmada para o dia 23 de março (sábado), das 7 às 12 horas, tem como objetivo atender 200 mulheres com suspeita ou diagnóstico de endometriose. Além de participar de palestras com diversos especialistas e de receber camisas, panfletos e lanche, as mulheres selecionadas a partir de uma avaliação médica receberão vouchers para realização de exames (ultrassonografia e ressonância magnética) e de consultas com nutricionistas. Os procedimentos serão realizados gratuitamente em instituições parceiras: Hospital da Bahia e Clínicas Amo, Geus e Delfin. Todas as participantes terão acesso à aferição de pressão arterial e dosagem de glicemia capilar, oferecidas pelo Laboratório Jaime Cerqueira. As senhas para participar do mutirão serão entregues na sexta-feira (22), das 9h às 16h, ou enquanto houver disponibilidade, na ABM.
No sábado seguinte (30), das 6 às 9 horas, para reforçar o Março Amarelo, o MovEndo vai realizar uma Caminhada (3 Km) e uma Corrida (5 Km) na orla do Jardim de Alah. O público-alvo, integrado por 300 pessoas, entre pacientes, familiares, médicos e apoiadores da causa, receberá camisa, kit lanche, hidratação e assessoria esportiva. A camisa será entregue no local do evento, mediante a doação de um quilo de alimento não perecível, que será destinado ao Lar Vida. A programação das lives temáticas e da sessão especial no TJ-BA será divulgada em breve.
Este ano, a “madrinha” do MovEndo 2024 será a empresária e bailarina Catharina Paiva (34), que recebeu o diagnóstico de endometriose em 2020. Desde então, ela mudou radicalmente seus hábitos alimentares e não abre mão da prática regular de atividade física, conforme orientação de médicos e nutricionista. Além de se livrar das dores, o tratamento adequado lhe permitiu engravidar de dois filhos. “As ações de conscientização do MovEndo são muito importantes principalmente porque nós, mulheres, crescemos acolhendo dores como algo muito natural (…). Contudo, a dor é um indicativo de que algo está errado e de que precisamos procurar ajuda especializada”, resumiu.
Doença – De acordo com o cirurgião ginecológico especialista em endometriose, Marcos Travessa, diretor do Centro de Endometriose da Bahia e do núcleo de ginecologia do Instituto Brasileiro de Cirurgia Robótica (IBCR), a endometriose é uma condição médica complexa e dolorosa que ocorre quando o tecido que normalmente reveste o útero, conhecido como endométrio, cresce fora do útero. “Este tecido deslocado pode se fixar em outros órgãos pélvicos, como ovários, trompas de falópio e revestimento da pelve”, explicou.
Os sintomas mais comuns são: dor pélvica intensa durante o ciclo menstrual, desconforto durante relações sexuais, dor ao urinar e problemas gastrointestinais. “O diagnóstico muitas vezes requer avaliação clínica; exames de imagem, como ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética; e, em alguns casos, laparoscopia, procedimento cirúrgico minimamente invasivo no qual um pequeno tubo é inserido na cavidade abdominal para visualizar e diagnosticar a extensão da endometriose”, afirmou Travessa.
Para o tratamento da doença, podem ser indicados medicamentos que aliviam a dor e reduzem a inflamação, além de terapias hormonais que suprimem o crescimento do tecido endometrial fora do útero. Segundo a coloproctologista do IBCR, Gabrielli Tigre, em casos mais graves, a cirurgia é inevitável. “A cirurgia robótica, em especial, oferece uma abordagem menos invasiva, permitindo ao cirurgião maior precisão e controle durante a remoção do tecido endometrial excessivo. Suas vantagens incluem recuperação mais rápida, menor tempo de internação e cicatrizes menores, proporcionando uma opção eficaz e menos impactante para as mulheres que enfrentam a endometriose”, destacou a especialista em coloproctologia.
Sororidade – Mesmo antes de saber que tinha endometriose, a comunicadora Ivone Lemos (42) começou a entender os modos de tratamento da doença e decidiu não guardar para si suas descobertas. Para ajudar outras mulheres, ela se tornou voluntária da AMO Acalentar – Associação Ministério Nacional e Universal de Endometriose, Infertilidade e Dor Crônica do Brasil, em junho de 2022. Em setembro do mesmo ano, recebeu o título de Embaixadora da Acalentar na Bahia. “No dia a dia na AMO, ao realizar entrevistas com especialistas, percebi que eu também tinha sintomas semelhantes. Como eu, muitas mulheres têm endometriose e não sabem disso”, pontuou.
Para Ivone, a assistência às mulheres com endometriose ainda é muito negligenciada. “Muitos dizem que se trata de uma doença leve e de baixo impacto, mas infelizmente não é. Estão falando mais sobre a condição, mas ela ainda é pouco compreendida pela maioria das pessoas. Ainda ouço frases como ‘quando engravidar, passa’, mas quem tem a doença sabe que não é simples assim. Por isso, conscientizar as pessoas sobre o diagnóstico adequado e ágil é tão importante”, concluiu. A AMO Acalentar é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que promove o ensino, a pesquisa e a assistência à mulher portadora de endometriose, infertilidade e dor crônica.