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Kaisho lança clipe de “Preto Fosco” e leva ao limite a estética emocional de seu novo EP

Um passo em falso no afeto, um burnout profundo, a perda do sentido e, no meio disso tudo, a urgência de dizer algo. Foi nesse ponto de colapso que o músico, produtor e compositor Kaisho começou, quase sem querer, a compor as faixas de seu primeiro EP autoral, Em quadro, que chega às plataformas no dia 1º de agosto  pelo selo AlmaViva. Apenas cinco dias depois, no dia 6, chega também o videoclipe da faixa Nada que eu dissesse, no canal do selo. O vídeo  mescla referências da história da arte com a estética suburbana do rap. Intenso e visceral, o disco é uma travessia por dores emocionais e estados alterados de consciência, onde o rap se mistura com trip hop, neo-soul sujo, batidas lo-fi e vozes que oscilam entre a doçura e o caos.

Depois de oito anos atuando como produtor musical, Kaisho lança cinco faixas autorais inéditas – Nada que eu dissesse, Verdade relativa, Parabellum, Só o necessário e Preto Fosco  – que marcam o início de uma nova fase na trajetória do artista curitibano, que passou a compor como forma de atravessar um período difícil. “Eu comecei a escrever umas músicas como válvula de escape mesmo, sem compromisso. Eu tava numa época bem depressiva minha”, diz ele, que hoje encontra na carreira autoral um novo propósito de vida.

No período pós-pandemia, com a suspensão de alguns medicamentos, Kaisho se viu diante de um burnout que o afastou temporariamente da música. “Eu tinha resolvido que não ia mais brincar com a música, que não ia fazer mais nada relacionado”, relembra. Por dois anos, chegou a empreender uma franquia de uma famosa fábrica de chocolates.  A retomada veio a partir de trocas online com outros produtores e, mais tarde, com o apoio de Sérgio Afonso, que o incentivou a investir no projeto autoral.

Produzido de forma independente, o EP traz letras densas e confessionais, em que experiências pessoais são retrabalhadas em linguagem poética e crua. Em “Parabellum”, aparecem temas como vigilância, abuso emocional, melancolia e substâncias como escape. “Verdade relativa” fala da lucidez amarga após o fim de uma relação. Já “Nada Que Eu Dissesse” aborda uma história de amor atravessada por impulsos contraditórios, tentativas de reconexão e orgulho ferido. Em “Só o necessário”, o eu-lírico narra uma travessia emocional onde a fé e a desilusão convivem lado a lado. A última faixa, Preto Fosco, traz uma atmosfera noturna das ruas tão fascinante quanto ameaçadora. 

Antes do EP, Kaisho havia lançado alguns singles entre 2023 e 2024, que funcionaram como um campo de testes. “Eu tava tentando ver onde colocaria minha voz, o tipo de voz que eu usaria. Fui mesclando e brincando nas músicas. Hoje em dia eu sinto que virou vertente, mesmo, de jeito de compor”, diz Kaisho, que assina praticamente todas as etapas da criação do disco, produzindo de forma independente. As referências que permeiam o trabalho vão de Gorillaz — “a primeira banda que me moldou musicalmente” — até nomes do rap nacional como Criolo, MC Marechal, Black Alien, além da banda Machete Bomb, que Kaisho já chegou a produzir, no início.

O título do disco foi inspirado pela própria capa, que faz uma releitura do quadro O violeiro, de Almeida Júnior. “A obra retrata a serenata como símbolo do cotidiano brasileiro. Tentamos trazer algo que remeta isso – a importância da música no cotidiano das pessoas. Daí nasceu o Em quadro, tentando encaixar minha sonoridade nesse cotidiano”, explica o artista. 

O EP também marca o início de uma nova fase nos palcos: ainda este ano, Kaisho prevê a estreia de seu show autoral, ao lado de um parceiro DJ e instrumentista, para criar um espetáculo híbrido: “Não me vejo nesse modelo de cantar em cima de beat. Tô montando um show que soe mais orgânico, mesmo com dentro dessa vertente eletrônica”. Além do clipe de Nada que eu dissesse, o artista prepara também o lançamento em vídeo da faixa Preto fosco, além de três visualizers que integram a estratégia de divulgação do projeto.

Kaisho não é nenhum novato – mas também não tem pressa de parecer veterano. Depois de anos produzindo nomes como Nocivo Shomon, Machete Bomb e artistas do coletivo 1kilo e La Viela, ele agora organiza sua própria narrativa, assumindo a frente da história. Entre feridas, beats e labirintos sentimentais, seu EP de estreia é um manifesto íntimo de quem sobreviveu a si mesmo — e decidiu cantar sobre isso.

Sobre o artista

Kaisho é cantor, compositor e produtor musical nascido em Curitiba. Começou a cantar ainda criança e formou sua primeira banda de rock aos 13 anos, antes de cursar Direito por três anos e, em seguida, largar tudo para viver de música. Atuou como produtor por quase uma década, colaborando com artistas como Nocivo Shomon, Machete Bomb, UmQuilo e La Viela. Após um período afastado da música, em que chegou a operar uma franquia, decidiu retomar a criação de forma autoral, escrevendo suas próprias canções e desenvolvendo um som híbrido que mistura rap, trip hop e texturas experimentais. Em 2024, mudou-se para São Paulo para investir na carreira solo e lançou seu primeiro EP com quatro faixas inéditas.

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