
Na primeira semana de junho, o comércio em várias cidades brasileiras adota uma estratégia incomum: vender produtos com descontos equivalentes ao valor dos tributos embutidos. Essa iniciativa marca o Dia Livre de Impostos (DLI), criado para alertar consumidores e empresários sobre o peso da carga tributária no país. Em 2025, a data será lembrada em 6 de junho.
Mais do que um movimento promocional, o DLI é um protesto silencioso contra o sistema tributário brasileiro, considerado um dos mais complexos e injustos do mundo. A ação busca provocar reflexão: quanto se paga de imposto no Brasil e qual é o retorno disso para a população?
O Estado como sócio oculto
Empreender no Brasil significa ter um sócio com participação garantida nos lucros e nenhuma exposição aos riscos: o governo. Os tributos incidem sobre todos os aspectos da cadeia produtiva, da matéria-prima à venda final, afetando diretamente os preços e a competitividade.
A tributação brasileira é fortemente baseada no consumo, o que penaliza de forma mais dura as camadas mais pobres da população. Um mesmo produto tem carga tributária que pode ultrapassar 50%, dependendo do setor. Em um país onde o acesso a serviços públicos de qualidade ainda é limitado, o debate sobre a eficiência no uso desses recursos se torna urgente.
O Impostômetro e os trilhões arrecadados
Instalado no centro de São Paulo pela Associação Comercial da cidade, o Impostômetro mostra, em tempo real, o total arrecadado em tributos pelas três esferas do poder público. Em 2024, o painel registrou mais de R$ 3 trilhões em impostos pagos pela população brasileira. A previsão para 2025 é de que esse número ultrapasse os R$ 3,4 trilhões.
Apesar da cifra bilionária, a sensação generalizada entre os brasileiros é de que os serviços públicos oferecidos — saúde, segurança, educação, infraestrutura — não acompanham o volume arrecadado. A falta de transparência, aliada à má gestão e à corrupção, compromete a confiança da sociedade no sistema.
O papel do consumidor e do contribuinte
O Dia Livre de Impostos tem um papel essencial: informar. Ao mostrar quanto dos preços pagos é destinado ao governo, a campanha propõe que o consumidor assuma também o papel de contribuinte consciente. A mudança do sistema tributário brasileiro, apontado como ineficiente por especialistas, não depende apenas de reformas estruturais. Exige também uma sociedade engajada, que cobre dos seus representantes mais justiça e responsabilidade no trato com os recursos públicos.
Reflexão necessária
Qual é o custo de viver no Brasil? Qual o verdadeiro preço de um produto quando se desconta o peso dos impostos? A quem interessa um sistema que arrecada muito e entrega pouco?
Mais do que números, o Dia Livre de Impostos é um convite à reflexão. Sobre a função do Estado, a responsabilidade dos gestores públicos, e o papel de cada cidadão nesse processo.
Saiba mais: @pedromelo.jr