Por Lilian Carvalho (*)
No dia 13 de janeiro, a revista Vulture trouxe à tona uma matéria que já vinha sendo discutida nas redes sociais, especialmente no Twitter/X: Neil Gaiman, renomado autor de obras como Sandman e American Gods, está sob acusações de ser um predador sexual. A repercussão foi imediata, elevando o nome de Gaiman aos trending topics, com mais de 35 mil menções em poucas horas.
Infelizmente, esse é apenas mais um caso de alto perfil que viraliza na internet. Desde o movimento #MeToo, que ganhou força em 2017 com as denúncias contra Harvey Weinstein, as redes sociais têm desempenhado um papel crucial na conscientização sobre abuso sexual. Embora criticadas por disseminarem fake news, elas têm sido uma plataforma vital para que mulheres e meninas entendam o que constitui abuso e como podem se proteger e denunciar.
No Brasil, o impacto das redes sociais foi sentido em 2017, durante o BBB 17, quando a hashtag #MeuRelacionamentoAbusivo viralizou após a participante Emily sofrer agressões de seu parceiro no programa. Esse episódio destacou como as redes podem fomentar discussões importantes e urgentes.
O caso de Neil Gaiman não se trata de um ataque violento em um parque à noite, mas sim de uma situação insidiosa e, por vezes, ambígua. Uma das supostas vítimas, Scarlett Pavlovich, que trabalhou como babá para Gaiman, é central nessa narrativa. A controvérsia se intensificou quando uma mensagem de texto de Scarlett para Gaiman, afirmando que o relacionamento foi “consensual”, veio à tona, gerando debates acalorados sobre o que realmente significa consentimento.
As respostas a um post específico no Twitter/X, que questionava a validade de uma acusação de estupro diante de tal mensagem, revelam o esforço coletivo em esclarecer o conceito de consentimento. É essencial que o consentimento seja dado de forma livre e consciente, sem coerção. No caso de Scarlett, a disparidade de poder entre ela e Gaiman, somada ao medo de perder seu emprego, lança dúvidas sobre a autenticidade de seu consentimento.
O crescente interesse pelo termo “o que é consentimento”, com cerca de 3000 buscas mensais nos EUA, e questões como “o consentimento pode ser cancelado a qualquer momento?”, refletem a importância da internet como um espaço de aprendizado e conscientização.
Demonizar as redes sociais como simplesmente disseminadoras de fake news é uma visão rasa do todo. Sim, existem problemas nesse sentido, mas o uso das redes também tem o seu lado positivo e a Internet pode ser um farol e guia na conscientização e mudança de valores. Ela não apenas expõe injustiças, mas também educa e empodera indivíduos a questionar e redefinir normas sociais. Em tempos de transformação, é vital que continuemos a usar essa ferramenta poderosa para iluminar questões complexas e promover um mundo mais justo e informado.
(*) Lilian Carvalho é PhD em Marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP e fundadora da Método Lumière