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Você não está quebrada, está em processo de se tornar: uma reflexão de fim de ano

As festas têm uma forma particular de nos fazer perguntas para as quais nem sempre sabemos as respostas.


Elas chegam envoltas em expectativas — alegria, gratidão, convivência — e, ainda assim, para muitas de nós, também fazem emergir emoções mais silenciosas: reflexão, ternura, incerteza e saudade. No silêncio entre os encontros, ou nas pausas depois que as luzes se apagam, muitas vezes nos deparamos com partes de nós mesmas que estivemos ocupadas demais para ouvir ao longo do ano.

Se esta estação lhe parece mais pesada do que festiva, quero dizer isso com delicadeza e clareza:
você não está quebrada. Você está em processo de se tornar.

Durante grande parte da minha vida, acreditei que dificuldade significava fracasso. Que momentos de sobrecarga, ansiedade ou desorientação eram sinais de que algo havia dado errado — algo a ser consertado, suprimido ou escondido. Eu pensava que força significava controle. Que progresso significava certeza. Que cura significava chegar a algum lugar estável e permanecer ali. Mas o crescimento não funciona assim.

Tornar-se não é uma linha reta. Não é organizado. E não segue o calendário que gostaríamos que seguisse. Tornar-se muitas vezes se parece com desaprender antes de aprender, deixar ir antes de construir e permanecer parada tempo suficiente para ouvir o que vem tentando chamar nossa atenção há muito tempo.

As festas amplificam essa verdade.

Somos incentivadas a olhar para o ano que passou e medi-lo pelo que conquistamos, pelo que perdemos, pelo que deveríamos agradecer. Raramente paramos para honrar a forma como sobrevivemos. Quantas batalhas internas travamos em silêncio. Quantas versões de nós mesmas superamos sem cerimônia ou aplausos.

Às vezes, tornar-se se parece com descanso, não com resolução. Às vezes, se parece com fazer perguntas melhores em vez de forçar respostas. Às vezes, se parece com escolher compaixão em vez de crítica — especialmente em relação a nós mesmas.

Aprendi que colapsos nem sempre são finais. Muitas vezes, são convites. Convites para desacelerar. Para prestar atenção. Para nos realinharmos com o que realmente importa, em vez daquilo que achávamos que deveríamos querer.

Existe um mito cultural de que a cura é dramática e instantânea — que um momento de grande revelação tornaria tudo claro de uma vez. Na realidade, a cura se parece mais com uma conversa à qual voltamos ao longo do tempo. Um relacionamento que construímos com o nosso mundo interior. Uma prática de escuta, e não de julgamento. É aí que o processo de se tornar começa.

Tornar-se nos convida a parar de nos rotular como “demais”, “sensíveis demais” ou “insuficientes”. Convida-nos a enxergar nossa profundidade não como um defeito, mas como um sinal — um sinal que aponta para sentido, criatividade, intuição e conexão. Também nos pede que abandonemos a ideia de que precisamos chegar a algum outro lugar para sermos dignas de paz.

Se este ano lhe tirou algo — certeza, confiança, identidade — saiba que isso pode ter aberto espaço. Não porque você estivesse errada antes, mas porque agora está pronta para algo mais alinhado com quem você é. O processo de se tornar é sutil. Ele acontece muitas vezes abaixo da superfície, muito antes de ser visível para qualquer outra pessoa. Como raízes que crescem no solo do inverno, invisíveis, mas essenciais.

Nesta estação, em vez de se perguntar o que deixou de fazer, tente se perguntar:

O que aprendi sobre mim mesma este ano?
O que já não combina com quem estou me tornando?
Onde estou sendo chamada a suavizar em vez de forçar?

Você não precisa ter tudo resolvido para seguir em frente. Não precisa de um plano perfeito nem de respostas bem acabadas. Precisa apenas de honestidade e da coragem de permanecer presente no seu próprio desdobramento.

À medida que o ano chega ao fim, meu desejo não é que você corra em direção à transformação, mas que permita que ela aconteça. Que confie no processo, mesmo quando ele parece inacabado. Que reconheça que tornar-se não é uma fraqueza. Celebre: é um sinal de que a vida está em movimento dentro de você.

Lesley Yvonne Hunter é escritora, criadora e defensora do bem-estar mental e espiritual integrado. Seu trabalho explora o espaço onde resiliência, intuição e autocompreensão se encontram, oferecendo uma perspectiva sólida e compassiva sobre a transformação pessoal. Seu livro de estreia, Madness to Manifestation: From Breakdown to Breakthrough, será lançado em fevereiro de 2026 e convida os leitores a ressignificar a dificuldade como um catalisador do processo de se tornar.

Por Lesley Yvonne Hunter

claudia cataldi: