Nos dias 26, 27 e 29 de novembro, São Paulo recebe um lançamento triplo que reconecta o passado e o presente do Clube da Esquina. Vilma Nascimento, prima de Milton Nascimento, Duca Leal, produtora musical, e Andréa Estanislau, pesquisadora e autora, se unem para compartilhar, em livros e conversas, o olhar feminino sobre um dos movimentos mais transformadores da música brasileira.
Os encontros serão na FESPSP, na livraria Bibla e no restaurante Consulado Mineiro. Na Bibla, a programação incluirá pocket show de Graziela Medori, intérprete do álbum-tributo Nossas esquinas, e bate-papo mediado pelo jornalista André Uzêda.
Infelizmente, os eventos ganham um novo significado com a passagem recente de Lô Borges, a outra grande estrela do grupo. O evento, que já estava marcado antes da morte do autor, ganha também o caráter de homenagem e honra à memória do artista.
Testemunhas oculares, pesquisadoras e parte viva da história do movimento musical que mudou a música brasileira nos anos 1970, essas três mulheres contam seus pontos de vista, com suas vozes e vivências particulares, sobre um capítulo fundamental da nossa cultura.
Vilma Nascimento, autora de De onde vem essa força, em parceria com Jary Cardoso e João Marcos Veiga, é prima de Milton Nascimento e conviveu com a turma no Rio de Janeiro no início dos anos 1970, quando Milton, Lô Borges e parceiros como Fernando Brant, Márcio Borges, Ronaldo Bastos e Toninho Horta trabalhavam no álbum Clube da Esquina, cujo impacto reverbera até hoje. “Eu ficava pra cima e pra baixo com a turma. Muitos chopes no Garota de Ipanema, muita festa, muito show, muita praia”, lembra Vilma.
Em seu primeiro livro, ela resgata as raízes familiares de Milton Nascimento em Juiz de Fora, onde vive parte da família, a partir da trajetória da matriarca Vó Maria e das mulheres da família Nascimento. A obra revela histórias inéditas sobre a mãe biológica de Milton e suas conexões com a família adotiva de Três Pontas, trazendo fotos raras e relatos pouco conhecidos que enriquecem a compreensão da vida e da obra do artista. “A música corria pelas nossas veias”, conta a autora, que já foi cantora, fez duetos com Gilberto Gil e chegou a lançar um álbum, Conquistado. Vilma, aliás, é a mesma que Milton cita na canção Raça, junto com uma tia deles: “Atraca Vilma e tia Hercília”.
Quem também fazia parte integrante da “turma dos mineiros” no Rio de Janeiro era a esposa de Márcio Borges, Duca Leal. Produtora, poeta e escritora, ela foi também musa inspiradora de clássicos como Um girassol da cor do seu cabelo e Vento de maio. Além de ter produzido um dos primeiríssimos álbuns independentes do Brasil (Os Borges) é cofundadora da Associação dos Produtores Independentes e autora da letra da música Outro cais, imortalizada pela voz de Elis Regina.
Em seu livro autobiográfico, Outras esquinas, ela conta as peripécias de sua vida, e de toda a trupe, até os anos 1980. “Eu não me considero uma escritora, mas uma contadora de histórias”, avisa. O livro de 400 páginas, 100 delas só de fotos, conta ainda com textos de Márcio Borges e outros colaboradores. O livro reúne passagens ao lado de Márcio e Milton e encontros com nomes como Elis Regina, Leila Diniz, Caetano Veloso e Joyce, entre outros grandes artistas.
Andréa, a mais recente da turma, conheceu o Clube da Esquina ainda na adolescência, quando ficou encantada por aquelas músicas e, em especial, pela figura mítica de Milton Nascimento. No final da faculdade de Design Gráfico, desenvolveu como projeto de conclusão de curso a ideia de uma publicação que se tornaria o livro Coração Americano – Bastidores do álbum Clube da Esquina, que teve a primeira edição lançada em 2008. “Eu tive o privilégio de conversar com todos os artistas do Clube. Consegui os contatos e fui batendo de porta em porta. Mesmo vendo só o esboço do livro, os artistas compraram a ideia, porque viram o meu entusiasmo e amor, uma paixão verdadeira pelo Clube da Esquina”, relembra.
Em 2020, o livro ganhou uma edição revista e ampliada, com um projeto gráfico primoroso, que será apresentada ao público no evento. “Quando fiz a pesquisa e lancei a primeira edição em 2008, percebi que muita gente não conhecia o Clube da Esquina. Hoje, ainda tem gente em Belo Horizonte que nunca ouviu falar sobre o movimento que nasceu nas ruas da cidade, então é importantíssimo resgatar essa memória e divulgá-la para que as novas gerações tenham acesso a esse patrimônio que é a música popular brasileira”, reflete.
Vilma e Duca se reencontraram em 2024, quando a prima de Milton saiu de Salvador, onde mora atualmente, exclusivamente para ver o lançamento do livro da amiga e reencontrá-la. No mesmo ano, Duca conheceu Andréa em um show em homenagem ao Clube da Esquina no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. “Era como se nós fôssemos amigas de infância”, conta. Desses encontros surgiu a ideia de se juntarem para viajar e divulgar seus livros e mostrar o ponto de vista feminino da história. “A música, em especial a do Milton Nascimento, faz parte de nossas vidas. A amizade que a gente criou e o afeto entre nós nos fortalece”, diz Andréa. “Dá pra sentir o pique de nós três juntas. E é um grupo só com mulheres feministas, não é?”, acena Andrea. “E bonitas”, acrescenta Vilma, devidamente. “Não esqueça disso”.
SERVIÇO
Sessão de autógrafos dos livros sobre o Clube da Esquina e Milton Nascimento das autoras Vilma Nascimento, Andréa Estanislau e Duca Leal. Agenda:
Dia 26 (quarta-feira), na Faculdade FESPSP às 18 horas. (Rua Gen. Jardim, 522 – Vila Buarque, São Paulo – SP, 01223-010) – EVENTO FECHADO
Dia 27 (quinta-feira), na Livraria Bibla às 18 horas. (Praça Professora Emília Barbosa Lima, 58 – Vila Madalena, São Paulo – SP, 05448-070)
Dia 29 (sábado), no restaurante Consulado Mineiro às 19 horas. (R. dos Pinheiros, 1034 – Pinheiros, São Paulo – SP, 05415-001)