“Estamos diante de uma geração que acredita que saúde pode ser comprada em frascos clandestinos. E paga por essa ilusão com a própria vida.” A frase não é exagero: o uso de esteroides anabolizantes, popularmente chamado de “suco”, deixou de ser tabu e hoje é vendido nas redes sociais como atalho para o corpo perfeito.
Nas academias e no ambiente digital, corpos “perfeitos” surgem acompanhados de promessas sedutoras. Alguns influenciadores minimizam os riscos, outros chegam a divulgar dosagens e indicar canais de compra clandestinos. “Essa prática vem sendo tratada como algo normal ou inofensivo, quando na verdade esconde riscos graves para a saúde física e mental”, alerta o professor e pesquisador.
Na linguagem das academias, chamam de “suco” — termo popular que substituiu apelidos antigos como “bomba” ou “danone”. Mas, por trás da gíria, esconde-se uma realidade alarmante: jovens cada vez mais motivados por resultados rápidos, ignorando efeitos colaterais que vão desde problemas hormonais até o aumento expressivo da mortalidade. Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria mostram que 71,7% dos usuários têm entre 18 e 25 anos e, desses, 97,8% utilizam as substâncias sem qualquer supervisão médica. “Esses números revelam um cenário de risco coletivo, onde a estética imediata se sobrepõe à preservação da vida”, afirma.
Formado em Educação Física, PhD em Saúde Mental, doutor em Fisiologia e especialista em exercício de força, Welton Godinho também vive o esporte na prática. Competiu no fisiculturismo, é praticante de musculação e atualmente se prepara para disputar no powerlifting. “Essa vivência, somada à minha formação acadêmica, me permite falar com segurança: não existe atalho seguro. A verdadeira evolução vem de treino, descanso, alimentação e acompanhamento profissional. O uso de anabolizantes é uma troca perigosa que, cedo ou tarde, cobra um preço alto demais.”
Estudos que conduziu mostram que 78,4% dos jovens praticantes de musculação preferem buscar informações na internet em vez de recorrer a profissionais qualificados. Isso cria um ambiente perfeito para a disseminação de mitos e práticas arriscadas. “A influência digital, quando mal direcionada, se torna combustível para decisões equivocadas. Precisamos repensar a responsabilidade de quem comunica sobre saúde e performance”, reforça.
Com base na literatura científica, Godinho lembra que os riscos vão muito além da aparência: aumento do colesterol ruim, resistência à insulina, acúmulo de gordura visceral, doenças cardiovasculares, infertilidade, disfunção erétil, alterações psiquiátricas e maior probabilidade de morte, inclusive por causas não naturais. “É preciso que a sociedade, os profissionais e os próprios influenciadores entendam que a saúde não é moeda de troca. O corpo perfeito não é o mais volumoso ou definido, mas aquele que se mantém forte e funcional ao longo da vida.”
Para ele, a solução passa por campanhas educativas e incentivo a práticas naturais. “O maior músculo que qualquer pessoa pode desenvolver é a consciência. É ela que vai determinar não apenas a estética que se conquista, mas a qualidade de vida que se mantém.”