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Estudo do HUGG revela conexão entre depressão e problemas cardíacos em estudantes de Medicina

Pesquisa, pioneira e premiada, indica também benefícios da espiritualidade

Pesquisa, pioneira e premiada, indica também benefícios da espiritualidade
No Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio), filiado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), estudantes de Medicina estão trazendo esperanças para o tratamento antecipado das doenças cardiovasculares, as maiores causas de morte globalmente. Por meio de uma pesquisa pioneira, feita com outros alunos, eles exploram como a disfunção endotelial pode ser influenciada pela depressão, uma condição prevalente entre os futuros profissionais da área. A descoberta foi premiada em abril, durante o 41° Congresso de Cardiologia do Rio de Janeiro e, recentemente, selecionada para participar do 79° Congresso Brasileiro de Cardiologia, a ser realizado em setembro.

Estudantes de Medicina têm uma incidência cinco vezes maior de depressão
O endotélio é uma camada interna dos vasos que protege nossa saúde cardiovascular, evitando trombose, coagulação excessiva e contrações exageradas dos vasos em situações de estresse. Quando ele apresenta disfunção, perde esses mecanismos, aumentando o risco de formação de placas de gordura nas artérias.O distúrbio do endotélio, por sua vez, pode ser causado por fatores de risco tradicionais como tabagismo, colesterol alto, obesidade e hipertensão, além de fatores emergentes como ansiedade e depressão. O foco da investigação, então, buscou determinar se a depressão contribuiria diretamente para a disfunção endotelial, aumentando o risco cardiovascular. Como resultado, percebeu-se que o estado depressivo eleva em até 4,5 vezes a chance de ocorrer a disfunção.”Analisar a disfunção endotelial em uma população jovem e aparentemente saudável nos permite entender melhor como as condições subclínicas podem evoluir para problemas de saúde mais sérios”, afirmou o aluno da Escola de Medicina e Cirurgia (EMC) da Unirio, Pedro Bastos de Medeiros, um dos participantes do projeto. A pesquisa indica que estudantes de Medicina, uma população com uma prevalência de depressão de cerca de 27%, oferecem um campo fértil para observar estas correlações, dadas as demandas psicológicas e emocionais únicas impostas. A título de comparação, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prevalência de depressão é em torno de 5% na população geral.

Depressão: Uma conexão perigosa com a saúde do coração
De acordo com o professor adjunto da EMC, com atuação no HUGG e coordenador da atividade, Julio Tolentino, a depressão aumenta a inflamação subclínica nos vasos sanguíneos, prejudicando o endotélio. Ao mesmo tempo, eleva os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, que deteriora a função vascular. A depressão desregula o sistema nervoso autônomo, favorecendo o sistema nervoso simpático, o que pode resultar em contrações vasculares excessivas. “O novo nessa história é que vimos isso numa população muito jovem. Estudantes com depressão não só sofrem psicologicamente, mas também têm risco aumentado de problemas cardiovasculares silenciosos e invisíveis”, relatou.Ao excluírem pessoas que tomavam medicações para quadros psiquiátricos, foi vista a quantidade de jovens que já estavam em tratamento, revelando um quadro triste. “Lemos o tempo inteiro que depressão mata e é muito séria, mas, geralmente, só pensamos no suicídio. O que estamos fazendo aqui é ampliar essa visão”, destacou, Isadora Guimarães, aluna participante do trabalho. Um dos objetivos é entender como esse corpo adoece, para, no futuro, tentar impedir essa evolução.”A função e a disfunção endotelial são dinâmicas. O desafio surge quando as placas de gordura estão formadas ou quando elas instabilizam, gerando eventos agudos, que exigem intervenções médicas imediatas. Isso representa apenas a ponta do iceberg”. Segundo Julio, a ideia é atuar na base desse iceberg, identificando fatores de risco e fortalecendo a proteção para prevenir o avanço.O docente esclareceu que, as medicações antidepressivas não necessariamente aprimoram a função cardiovascular. Entretanto, o médico mencionou que existem fatores protetores contra a disfunção endotelial, um tópico explorado no trabalho do ano anterior (também premiado), como a espiritualidade
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A espiritualidade surge como ação protetora
“Descobrimos que a espiritualidade possui uma ação protetora multifacetada e multidimensional, que beneficia a função endotelial e, consequentemente, diminui o risco cardiovascular,” salientou o especialista. Este achado sugere uma abordagem holística no tratamento médico. “A espiritualidade, neste contexto, não é apenas um complemento; ela pode ser um escudo poderoso contra o estresse crônico e a depressão, que são tão prevalentes em ambientes altamente estressantes como o da Medicina,” comentou o médico.A espiritualidade é uma dimensão humana universal, presente em todos, assim como as dimensões física, social e emocional. Independentemente da religião, ela envolve a busca de sentido, propósito e conexão com o eu, os outros, o momento presente e o que é significativo ou sagrado.“Isso vai além de opinião, é ciência comprovada. Fiquei encantado quando comecei a estudar e vi o impacto que a espiritualidade pode gerar. É uma ciência robusta e de baixo custo”, acrescentou o discente Pedro Bastos, relatando que intervenções espirituais, além de extremamente baratas, são implementáveis na prática clínica.

Perspectivas futuras
A partir do projeto, segundo Pedro, há a possibilidade de criação de protocolos para estimular a espiritualidade e, consequentemente, reduzir os efeitos causados pela depressão, assim como riscos cardíacos. “Estamos estudando protocolos de meditação baseados em gratidão (um dos mediadores da espiritualidade). Pessoas que têm maior gratidão apresentam melhor modulação autonômica cardíaca, o que afeta diretamente o sistema cardiovascular”.Neste mês de julho, o trabalho apresentado pelos estudantes foi selecionado para premiação no 79° Congresso Brasileiro de Cardiologia, encontro mais rigoroso de Cardiologia no Brasil, a ser realizado em setembro.*Além dos estudantes citados na matéria, fizeram parte da pesquisa Matheus Tinoco e Leticia Flor. Todos compõem os projetos de iniciação científica da Unirio. O responsável pela realização dos exames padrão-ouro foi o médico André Casarsa, que também participou deste estudo.

Sobre a Ebserh
O Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio) faz parte da Rede Ebserh desde dezembro de 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação
Joacles Costa: Jornalista, Diretor Executivo, Autor de vários Livros, Professor Pós-Graduado em Educação Ambiental, Educação Especial, Gestão Pública.